0054 - O jornalista e a Inteligência Artificial
O repórter Fábio Bispo compartilha como tem sido sua experiência de usuário de IA para a produção de reportagens baseadas em dados e farta documentação.
Em 2019, por ocasião do Dia do Jornalista, celebrado em 7 de abril, escrevi um texto no meu antigo blog [o Primeiro Digital, atualmente em “modo avião”] que “nenhuma outra profissão foi tão impactada pela internet quanto a de jornalista. Não é exagero e pode até já ser um lugar-comum, mas é, com certeza, uma afirmação tão positiva quanto negativa”.
Minha afirmação era baseada na minha própria experiência, na observação de iniciativas de outros colegas e na construção de novos [bons e maus] hábitos de consumo e de relação do público com a mídia e dos jornalistas.
O que disse há cinco anos, acredito, ainda faz sentido. Mas agora podemos falar de um novo elemento impactando o exercício da profissão: a Inteligência Artificial.
Como isso tem ocorrido na prática? Pedi ao amigo Fábio Bispo (@FabioBishpo), jornalista, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (SJSC), especializado em jornalismo de dados, para contar como tem sido sua experiência de usuário da IA na construção de suas reportagens para o InfoAmazonia.
Veja os destaques do depoimento compartilhado por ele.
O problema
“Em dezembro de 2022, como parte programa da Report For The World, do qual sou bolsista para produção de reportagens para o InfoAmazonia, fomos provocados a buscar ideias inovadoras que causassem impacto no jornalismo. Decidimos mergulhar em uma investigação sobre o mercado de carbono em terras indígenas na Amazônia. Assunto novo, complexo sem nenhuma referência de coberturas anteriores.
A única pista que tínhamos, de uma fonte off, era de que as empresas estavam enganando os indígenas para assinarem contratos que permitiam a esses atravessadores negociarem compensações ambientais com grandes empresas do norte global”.
A solução
“Por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) começamos a recolher documentos públicos sobre esses acordos: atas de encontros, cópias de contratos, comunicações entre órgãos públicos e até denúncias na Justiça. Um volume enorme de informações.
Para analisar esses documentos, fizemos o uso da ferramenta Pinpoint, do Google, que agrega uso de IA para facilitar a leitura de documentos relacionando entidades (pessoas e empresas) e permitindo a navegação entre os arquivos como o próprio buscador do Google, só que dentro de um grupo específico de informações.
Foram nesses documentos que encontramos as provas mais concretas de violações de direitos dos indígenas, com promessas exageradas e descumprimentos de garantias estabelecidas em leis e acordos internacionais de proteção dos direitos humanos”.
A ferramenta
“O Pinpoint é exclusivo para jornalistas e recentemente incluiu nova função que permite fazer perguntas em linguagem natural sobre os documentos e obter respostas com tecnologia de IA generativa. A ferramenta possui tecnologia OCR (reconhecimento óptico de caracteres) e é capaz de interpretar manuscritos e arquivos em imagens. Até carimbo de cartório ela consegue ler e interpretar”.
Mais ferramentas
“Também utilizamos o Aleph, outra ferramenta poderosa para investigar empresas e pessoas com um repositório global de arquivos mantidos pela Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP).
Também usamos o ChatGPT, para um uso bem específico na elaboração de um código em Python que nos auxiliou a raspar as coordenadas geográficas de 1.482 NFTs que estavam sendo vendidos na internet com a promessa de proteger e gerar créditos de carbono na Amazônia. Com as coordenadas geográficas, descobrimos que todos estavam em uma área tradicionalmente ocupada pelo povo Apurinã no sul do Amazonas”.
O resultado
“Essas ferramentas basicamente colocaram a nossa pauta de pé. O resultado da apuração rendeu uma série de reportagens inéditas sobre violações do mercado de carbono em terras indígenas brasileiras. A experiência com o Pinpoint ganhou até um destaque em uma produção especial do Google para difundir o uso da ferramenta.
A tecnologia permitiu que ganhássemos tempo na apuração de documentos priorizando o que realmente importa, que é apurar, checar e entrevistar”.
Saiba mais sobre ChatGPT e jornalismo:
🌟 Convite: Para quem estiver em Florianópolis, na quinta-feira (11), o Bispo, ao lado de outros ex-presidentes do SJSC, participa de uma debate sobre as mudanças na profissão e no mercado de trabalho nos últimos anos. O evento, em comemoração ao Dia do Jornalista, faz parte da programação dos 45 anos do Curso de Jornalismo da UFSC. Será no auditório do CCE, a partir das 9h, com entrada gratuita.
📎 Saiba mais.
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NOVIDADE
🔄 Edição de imagem no ChatGPT
Depois de liberar o acesso ao ChatGPT sem inscrição [tema da edição 0053 da newsletter], a OpenAI lançou uma nova funcionalidade para os usuários da versão paga de sua ferramenta: a edição de imagens no GPT DALL-E, dentro do ChatGPT. ]
Veja no gif.
Funciona assim:
Você pede para o DALL-E gerar uma imagem a partir de um determinado prompt.
Sem a função edição, se não ficasse satisfeito com o resultado entregue, o caminho era pedir para refazer o pedido.
Com a ferramenta de edição, o usuário pode fazer ajustes específicos, selecionando uma área de enviando o comando desejado, como trocar a cor ou adicionar elementos.
Na prática, mais uma funcionalidade que pode dar agilidade ao usuário. Mas também abre mais uma janela para quem usa IA com segundas intenções, aprimorando a criação de imagens e manipulando a adição de elementos.
📎 Saiba mais.
PESQUISA
🔍 IA nas empresas
Uma pesquisa com 2 mil executivos de 18 setores e nove países, incluindo Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Japão, apontou que 41% deles esperam empregar menos nos próximos cinco anos por causa da Inteligência Artificial e da Inteligência Artificial Generativa.
Realizada pela empresa suíça de recrutamento Adecco Group em colaboração com a empresa de pesquisa Oxford Economics, a pesquisa indicou ainda que:
Cerca de 46% remanejariam funcionários internamente se seus empregos fossem afetados pela IA.
Dois terços disseram planejarem contratar profissionais qualificadas em IA
Um pouco mais de um terço afirmou que treinaria sua equipe para adotar ferramentas de Inteligência Artificial.
ASPAS
🎶 Quando a IA desafina
“Quando utilizada de forma irresponsável, a IA representa enormes ameaças à nossa capacidade de proteger a nossa privacidade, as nossas identidades, a nossa música e os nossos meios de subsistência. Algumas das maiores e mais poderosas empresas estão, sem permissão, usando nosso trabalho para treinar modelos de IA”.
Trecho da carta aberta assinada por 200 artistas como Pearl Jam, Billie Eilish, Stevie Wonder, Imagine Dragons, Jon Bon Jovi, Katy Perry, Elvis Costello, entre outros [incluindo os responsáveis por espólios de nomes como Frank Sinatra e Bob Marley], em que expressam suas preocupações sobre o uso de Inteligência Artificial (IA) de maneira que possa desvalorizar o trabalho dos artistas humanos e prejudicar a compensação pelo seu trabalho criativo.
📎 Leia a carta no site da Variety.
VEM AÍ
🍷 Evolução
O que é a Inteligência Artificial Geral, evolução que é “Santo Graal” da tecnologia
A Inteligência Artificial Geral ainda é uma teoria — na prática ela não existe atualmente. A tecnologia existente hoje permite que computadores realizem tarefas específicas: dirijam um carro, joguem jogos complexos ou respondam perguntas elaboradas.
A Inteligência Artificial Geral aproxima os computadores ainda mais dos humanos, com uma capacidade de usar o conhecimento de forma mais abstrata.
📎 Leia mais.
FIQUE DE OLHO
💥 Busca paga?
Segundo o Financial Times, o Google planeja introduzir uma assinatura premium para acessar sua ferramenta de busca alimentada por Inteligência Artificial. Isso marca uma possível partida da tradicional gratuidade dos serviços de busca do Google, motivada pelo aumento significativo nos custos associados ao fornecimento de buscas com IA.
A busca paga representaria uma mudança significativa na abordagem da empresa no fornecimento de serviços de busca, que até agora tem sido gratuita e financiada por anúncios e links patrocinados.
O Google ainda não fez declarações oficiais sobre esses rumores.
📎 Leia mais.
ELEIÇÕES 2024
Viu a edição extra?
No sábado (6), faltando seis meses para o primeiro turno das Eleições 2024, publiquei uma edição extra da agenteGPT para atualizar as informações sobre como o ChatGPT poderia ajudar a eleger prefeitos e vereadores, agora com o construtor de GPTs customizados.
MEUS GPTs
GPTs ⚡ agenteINFORMA
Caso você seja assinante do ChatGPT Plus, acesse e teste os meus GPTs que estão em modo público na GPT Store:
Saiba mais sobre GPTs personalizados:
PARCERIA
🌍 agenteGPT no Terra
Desde o último dia 5, passei a colaborar com o portal Terra, via HOMEWORK (via
). Começo reproduzindo textos da minha newsletter, onde, se ainda não conheces, compartilho insights, notícias e, principalmente, minha experiência de usuário e criador de GPTs customizados do ChatGPT Plus.💬 Consultoria, treinamento e monitoramento
A partir da minha experiência com o ChatGPT e percebendo como seu uso impacta positivamente no meu dia a dia, decidi ajudar você e sua empresa a obter os mesmos benefícios. Assim nasceu monitorGPT, serviço derivado da minha newsletter agenteGPT.
O objetivo é entender as necessidades de cada cliente e a partir disso, contribuir com a implementação de uma rotina de uso do ChatGPT, treinando e monitorando a forma como os profissionais utilizam e obtêm melhores resultados, criando protocolos e GPTs customizados.
Pronto para uma nova rotina?
Alexandre Gonçalves | agenteINFORMA
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